Que a hidroginástica é uma modalidade versátil e que tem conquistado cada vez mais adeptos, ninguém duvida. Por ter pouco impacto, a modalidade se torna cada vez mais atrativa a quem quer emagrecer, fortalecer, ganhar resistência etc, mas precisa se proteger de lesões. Em busca de meios de manter a atividade sempre atraente para os públicos mais jovens, que buscam atividades dinâmicas e acham que hidroginástica é mais voltada à terceira idade, surgiram equipamentos e incrementos para deixar a prática mais animada e até mesmo mais intensa.
Hidroginástica: tendências
Profissional de educação física especialista em hidroginástica, Denise Rodrigues do Amaral conta que todos os anos vai ao Congresso da Associação dos Exercícios Aquáticos (AEA) com colegas para encontrar profissionais do mundo todo e ver o que tem sido trabalhado na hidroginástica em outros países. “É um meeting da nossa área”, brinca, “e percebo que estamos muito desenvolvidos em hidroginástica aqui no Brasil. Quando aplicamos uma tendência aqui, percebo que eles vão começar a aplicar no ano seguinte, mesmo tendo muito mais equipamento e sendo esses aparelhos mais em conta para outros países”.
A professora das Faculdades Metropolitanas Unidas (FMU) e professora de hidroginástica da Reebok Esporte Clube, Vera Lucia Gonçalves, conta que a AEA acontece sempre no mês de maio e, pela programação já divulgada, não promete grandes novidades. “Mas é sempre uma surpresa, né? Posso chegar lá e ver uma aula nova que vai surpreender todo mundo.” Ela destaca que, no exterior algumas aulas são básicas, comuns, mas que não chegam ao Brasil e nem por isso chegam a ser tendência, como as aulas sistematizadas e coreografadas que fazem bastante sucesso, mas o Brasil ainda tem carência nesse tipo de classe. “Tivemos o Power Pool há alguns anos e, depois que ele se encerrou, não tivemos mais nada. Nossos profissionais não são treinados para dar aula coreografada dentro da água e torço para que isso mude. No exterior é algo básico e, pra gente, é um dragão de 14 cabeças: falta treinamento da coreografia do profissional de fitness aquático por aqui.”
Aulas diferenciadas de hidroginástica
Para atrair mais participantes, as aulas de hidroginástica têm passado por algumas adaptações. Claudia Pelliccioli, que é especialista em hidroginástica e supervisora das atividades aquáticas da academia Runner de Higienópolis, na capital paulista, cita aulas de Acqua Boot Class, que simula um treinamento militar dentro da água, além do treino funcional que exige equilíbrio e força muscular e foi adaptado para dentro da piscina como alguns exemplos de ideias de aulas que surgiram para chamar a atenção dos participantes.
Vera lembra que a aula de jump, embora não seja uma novidade dentro das piscinas, ganhou inovações para atrair os alunos: “a gente usa os movimentos de uma forma diferente hoje em dia, com coreografia, aula intervalada. O Jump tem sido explorado de uma forma diferente”.
Denise lembra que uma das tendências fortes para a hidroginástica e que inspirou a criação da técnica de Acqua Pilates é o fortalecimento do core dentro da água. Vera lembra que não é possível estimular profundamente o abdômen na água, mas pode-se trabalhar de forma intensa se usar a estabilização, o core, que não tem nada a ver com o trabalho tradicional de flexão de coluna e tronco. “Na água, a gente não tem como identificar a magnitude do estímulo muscular. Temos o empuxo e ele ajuda a te dar sustentação. Você consegue, sim, desenvolver bastante o abdômen, se trabalhar muito a estabilização, trabalhar a musculatura do core, onde entra o abdômen fazendo a estabilização pela contração isométrica, mas não com sobrecarga”, ensina a professora da FMU.
Hidroginástica x Pilates
Denise, que dá aula de Acqua Pilates, explica que o trabalho dessa técnica dentro da água é inspirado no método criado por Joseph Pilates e trabalha com aquecimento, principal e relaxamento, desenvolvendo o fortalecimento do core, o equilíbrio, a força, a flexibilidade e o relaxamento para levar a uma maior consciência corporal por parte do aluno. Todavia, não há aparelhos ou acessórios como o método Pilates, que é tradicionalmente feito “em terra”. “O Pilates não foi criado na água, então uso fundamentos do Pilates dentro da piscina. Não são exercícios adaptados do Pilates também, porque desenvolvo os princípios que foram elaborados por ele: respiração, concentração, equilíbrio, força, flexibilidade, relaxamento e fluidez nos movimentos”, destaca.
Hidroginástica suspensa
Claudia, por sua vez, dá aulas de hidroginástica suspensa: “o corpo tem posições de trabalho e a suspensão, que é quando a gente faz todo o trabalho sem tocar os pés no fundo da piscina, é uma delas. Para tal, usamos o implemento de material, como um espaguete ou outro flutuante, que dê suporte para que o corpo não toque no chão”. Se fora da água modalidades como TRX, tiras e fitas lidam com o efeito da gravidade, na água lida-se com as propriedades do meio que auxiliam o corpo flutuar, gerando maior resistência.
“Quando você não toca o fundo da piscina, solicita os músculos estabilizadores da coluna de forma mais intensa, o abdômen. Dá para fazer o exercício sem o auxílio de materiais também, mas é mais intenso, uma estratégia mais forte e com tempo mais reduzido, porque você dá um estímulo forte para que chegue na máxima frequência cardíaca com a suspensão sem acessório e, para ter a recuperação, usa o apoio dos pés no chão”, explica Claudia.
O treino suspenso dentro da água também não contém contraindicações e pode ser ministrado em atletas em recuperação, como corredores, jogadores de futebol etc, que precisam manter o condicionamento físico, mas não podem comprometer uma lesão.
Zumba na água
Outra aposta de aulas de hidroginástica, segundo Vera Lucia, é a Acqua Zumba, que surgiu há três anos e ainda não chegou ao país por conta de burocracias: “o profissional estrangeiro não tem formação em educação física, é um instrutor que dá aulas tanto no solo quanto na água. Aí querem que o professor de água daqui faça uma certificação de zumba em solo antes de fazer a de acqua zumba. Fica caro e a primeira certificação não seria usada. É um dos braços do programa de zumba que espero conseguir trazer ao Brasil em breve”.
Acessórios de Hidroginástica
Dentre os acessórios que estão sendo usados na piscina, Denise cita esteiras mecânicas, bicicletas italianas, steps circulares, jumps, halteres, tornozeleiras e Acqua Gymsticks, um tipo de barra flutuante para usar dentro da água. “Das esteiras, só vi as elétricas em uma academia específica porque além de ser muito caro, a piscina precisa ser muito grande para comportar esse tipo de equipamento”, conta.
Claudia conta que os equipamentos para hidroginástica têm sido aprimorados todos os anos, como as bicicletas, que são de alumínio para poder resistir mais ao meio. “E na Europa a aula de hidro bike é bem forte. Países como Itália, Portugal, Bélgica são alguns nos quais a modalidade tem muita procura. Aqui no Brasil ainda é muito caro por causa do valor dos equipamentos. É preciso investir alto e por isso ainda não teve o boom que tem no exterior”, conta Vera Lucia.
Hidroginástica: a piscina e a aula
Denise destaca que para a prática do Acqua Pilates a água da piscina não pode ser quente, porque “não é hidroterapia” e as aulas também não são apenas de alongamento. “Trabalhamos força, flexibilidade, equilíbrio, melhora a postura e a respiração, evita lesões, mas tem que ter a consciência da instabilidade da água. Tem que otimizar para não ficar solto e essa é a função do professor”, diz Denise, que lembra que o aluno não pode flutuar na piscina durante essa aula.
Claudia recomenda atenção especial com pessoas que não são familiarizadas com o meio aquático e com as que têm medo ou trauma. “Geralmente trabalhamos com piscina rasa, mas isso não significa que a água chegue na altura da cintura. São piscinas nas quais a água chega até a altura do peito, por exemplo. Sei de clubes que têm piscinas mais fundas e aí exige um trabalho direto de suspensão, porque os pés não tocam o chão. No caso das pessoas mais altas, usamos um pouco de flexão de quadril para que elas consigam trabalhar em suspensão, mas também podemos variar a postura, colocando a pessoa em pé, deitada, sentada etc.”
Especialização em hidroginástica
A necessidade de especialização por parte do profissional de educação física para trabalhar com as novas possibilidades da hidroginástica é fundamental para que ele possa explorar o meio de forma segura para os alunos e para saber usar as propriedades da água a favor dos exercícios: “um dos principais erros é querer reproduzir na piscina o que se faz em terra”, alerta a profissional da Runner.
Vera critica a falta de curiosidade dos profissionais de educação física: “eles precisam explorar mais as modalidades de solo para poder criar as próprias aulas. Por que não?”.
Denise também dá cursos sobre a técnica de Acqua Pilates a profissionais de Educação Física interessados e presta assessoria às academias que querem em colocar a aula de Acqua Pilates em sua grade horária. “Tem aula em DVD também. É um material bem didático que ensina a visualizar a aula no deck, porque o professor tem que ver como se portar para fazer o exercício já que dentro da água a resistência impede que o movimento seja feito de forma rápida e a visualização mostra como é o tempo certo. Os movimentos são lentos e precisos e o objetivo é fortalecer a musculatura para ter suporte para outras aulas, conhecer movimentos para usar em outras modalidades.”
Por Jornalismo Portal EF