Três jovens aproveitaram o encontro com uma profissional formada em Educação Física pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC) para tirar todas as dúvidas sobre a formação e a atuação na área. Gabriela Bevilacqua pratica remo, Josué Teles joga futebol e Coroliny Corrêa sempre gostou de diferentes esportes. Capitaneando o time estava Luciana Rodrigues, 28 anos, que dá aulas de natação, hidroginástica e pilates em academias e trabalha também como personal trainer. A conversa fluiu em tom leve e descontraído, e ao fim da tarde os três estudantes tinham passado de concorrentes a futuros colegas.
Como foi o bate-papo
Gabriela Bevilacqua – Como é a sua rotina?
Luciana Rodrigues – Me formei quando o curso da UFSC ainda oferecia licenciatura plena, ou seja, posso atuar tanto em escolas, dando aulas para crianças, como em academias. Acabei me direcionando mais para o trabalho em academias. Hoje não tenho horários certos para acordar e dormir, por exemplo.
Trabalho em duas academias em Florianópolis e no Clube dos Oficiais da Polícia Militar com pilates, natação e hidroginástica, além de atuar como personal trainer, indo na casa dos alunos para auxiliá-los na prática de exercícios.
Josué Teles – Durante o curso você teve dúvidas, pensou em mudar de área?
Luciana – Sim, bem no meio da graduação eu estava um pouco perdida e pensei em fazer vestibular de novo. Na mesma época fiz um workshop sobre pilates e percebi que queria trabalhar com aquilo. O pilates e os projetos que o curso oferecem foram o que me incentivaram a continuar. Se vocês enfrentarem dúvidas desse tipo, eu recomendaria esperar pelo menos até a 3ª fase do curso, quando as coisas começam a ficar mais interessantes. Procurem participar de projetos, façam estágio e conversem com alunos que estão em fases mais avançadas.
Caroliny Corrêa – Você recomendaria fazer licenciatura ou bacharelado? Ouço falar que no mercado de trabalho quem se forma em licenciatura tem mais facilidade de encontrar emprego. É verdade?
Luciana – Minha dica é: façam aquele com o qual vocês se identificarem mais, e depois vocês podem ir puxando disciplinas e complementar a formação. Com um ano a mais de curso vocês conseguem ter as duas habilitações. Eu, por exemplo, não imaginava que iria gostar de dar aula para crianças e durante o curso acabei me surpreendendo. Sobre as oportunidades no mercado, isso vai depender muito de cada caso. Quem opta por trabalhar em escolas pode ter mais estabilidade e uma rotina. Por outro lado, o profissional liberal vai poder montar sua própria rotina. Muitas pessoas atingem um rendimento bem alto atuando como personal trainer.
Josué – Você recomendaria fazer estágios durante o curso?
Luciana – Sim, tanto estágios fora da universidade como os projetos dentro do curso. Desde a primeira fase vá experimentando um pouquinho de cada coisa. Trabalhe com idosos, com crianças e pesquisa. Isso é muito bom para descobrir do que você mais gosta e também o que já pode descartar. Eu, por exemplo, comecei dando aulas de natação na UFSC quando estava no início da graduação. Mais tarde fiz um estágio na academia Natatorium, onde dou aulas até hoje. O estágio pode ser a porta para um emprego também. Durante o curso consegui uma bolsa em um laboratório de pesquisa em biomecânica e percebi que não gostava dessa área.
Caroliny – Já ouvi dizer que algumas pessoas começam o curso achando que as aulas são voltadas para esportes, mas descobrem que tem mais teoria do que prática e se desmotivam. É assim mesmo?
Luciana – Isso é verdade, pode acontecer. O curso não é só esportes. Na primeira fase, por exemplo, temos disciplinas de biologia molecular, depois de anatomia, fisiologia. A princípio você se pergunta a necessidade de estudar aquilo, mas mais adiante você entende o porquê. Temos aulas práticas também. Jogamos não para saber jogar bem, mas para aprender a ensinar a jogar e a corrigir os alunos.
Caroliny – Qual foi a disciplina mais difícil do curso para você?
Luciana – A princípio foi anatomia, em que estudamos principalmente os músculos e tínhamos aulas práticas no anatômico da UFSC. Depois achei fisiologia do exercício e cinesiologia (ciência que analisa os movimentos) matérias difíceis, mas isso depende de cada aluno. Alguns colegas não gostavam de estudar treinamento, eu achava muito interessante.
Por dentro da carreira
Opções de atuação
O coordenador do curso de graduação em Educação Física da UFSC, Ricardo Lucas Pacheco, indica que o estudante que optar pelo bacharelado pode atuar como orientador de atividades físicas em academias, para grupos especiais, com ginástica laboral, esportes de aventura, entre outros; com gestão e administração em educação física ou esportes; como treinador esportivo ou preparador físico de equipes infantis ou adultas; e até mesmo como profissional de saúde do Sistema Único de Saúde (SUS). O licenciado pode trabalhar na rede escolar pública ou privada. Também existe a possibilidade de seguir a carreira acadêmica.
O que é mais gratificante
Para Luciana, como professora o mais gratificante da profissão é ver um aluno que chega sem saber nada aprender a executar um movimento ou praticar aquele esporte corretamente.
O que é mais difícil
Algumas pessoas não gostam de não ter uma rotina e um salário constantes, como ocorre comigo, por exemplo. Outras preferem essa dinâmica. A baixa remuneração também é apontada como um desafio para a categoria.
Do que precisa gostar
É importante gostar não só de esportes e de se exercitar, mas de estudar e de ensinar o exercício físico e de ligar com pessoas.
Disciplinas e tempo de duração
No primeiro semestre de 2006 o curso de Educação Física de UFSC deixou de ser licenciatura plena e passou a se constituir de um curso de licenciatura reformulado e de um curso de bacharelado. Os duas graduações têm duração de oito semestres, mas o bacharelado tem 360 horas/aula a mais. Existe um tronco comum de 2.202 horas/aula.
Nos dois cursos existem sete eixos currículares, como por exemplo Dimensões biodinâmicas do movimento humano, Dimensões pedagógicas do movimento humano, entre outras. De acordo com o coordenador da graduação, Ricardo Lucas Pacheco, o bacharelado forma pessoas qualificadas para promover a saúde e a qualidade de vida das pessoas. Existem três áreas centrais: a avaliação e a prescrição de exercícios; atividade física na promoção da saúde; gestão e treinamento desportivo. É nestas áreas que o aluno fará seu estágio acadêmico, durante a 6ª, 7ª e 8ª fases do curso, respectivamente. O trabalho de conclusão de curso é realizado na 7ª e 8ª fases.
Na licenciatura o profissional vai focar no trabalho com educação física da rede básica e profissional. O curso exige dois estágios, realizados na 6ª e 7ª fases. O TCC é feito nas 7ª e 8ª. Nos dois casos os estudantes precisam cursar Atividades academico-científico-culturais (AACC), que envolvem a apresentação de trabalhos em eventos científicos; participação em monitorias, estágios, programas extracurriculares, projetos de pesquisa. São 240 horas adicionais às aulas.
Caso o aluno tenha cursado o Bacharelado e queira fazer também a licenciatura terá que cursar mais 1.278 horas/aula, o que pode levar três semestres. Já o aluno que tenha cursado a licenciatura e queira fazer o bacharelado deve cursar mais 1.638 horas/aula, o que pode levar mais quatro semestres.
Mercado de trabalho
Em todo o país e em Florianópolis, em especial, a valorização da atividade física sofreu um boom nos últimos anos. O professor Ricardo Pacheco destaca que pela amplitude do campo de trabalho existem muitas oportunidades, mas que em muitas situações a remuneração financeira não é adequada.
Salário inicial
De acordo com o Sindicato patronal das academias e educadoras físicas do estado de Santa Catarina, o piso salarial para o profissional formado em educação física que atua em academias é de R$ 1.250 para 44 horas semanais. Para quem escolhe dar aula em escolas o valor é de R$ 1.567 para 40 horas semanais.
Fonte: DIÁRIO CATARINENSE