A morte de Jussara de Jesus Ribeiro, de 43 anos, em um espaço esportivo localizado no bairro de Águas Claras, em Salvador, na manhã da última terça-feira, reacende uma discussão sobre os limites do exercício físico para pessoas que sofrem de problemas cardíacos ou de diabetes, por exemplo. No caso de Jussara, ela sofria de hipertensão, mas, na ficha que preencheu antes de entrar na academia, nada foi informado.
No entanto, de acordo com o presidente, apenas no estado de São Paulo existe uma legislação específica que exige do aluno, antes de entrar na academia, que tenha o exame médico em mãos antes de praticar os exercícios. “O que recomendamos aqui é que seja feita uma anamnese onde o especialista levanta todo o histórico clínico de quem ele vai atender. E se o médico detectar que tem algum histórico de doenças, ou problema de saúde, deve pedir o exame para fazer a avaliação”, disse ele.
Por outro lado, apesar de não ser obrigatório, Lima acredita que a exigência do exame deveria ser feita, “para que a gente possa colocar as pessoas em atividade física de forma a que ela não venha a ter riscos”. Além disso, ele isentou a academia onde aconteceu o acidente, que faz parte das mais de duas mil que existem no estado. “Se trata de uma academia regular com profissionais devidamente registrados no conselho”, contou.
Com os devidos registros apresentados no exame, se a pessoa tem qualquer tipo de doença, o instrutor, a partir daí, terá condições de passar uma rotina de exercícios de acordo com a realidade de cada aluno. Mas, a academia terá responsabilidade se não pedir o atestado e permitir que a pessoa inicie a série de exercícios mesmo assim.
“Elas podem responder a processo ético e até criminalmente, por que estão atendendo uma pessoa que teria que passar por uma bateria de exames antes de praticar a atividade física”, falou Lima.
O CREF realiza, constantemente, fiscalizações nas academias com o objetivo de verificar a situação dos instrutores – se estão ou não aptos a trabalhar e tem o registro profissional –, e se o estabelecimento tem o credenciamento para trabalhar no ramo. Porém, destacou que o número de academias existentes no estado dificulta a ação do Conselho no dia-a-dia. Além disso, são mais de 12 mil profissionais registrados, sendo pouco mais de 10 mil na Bahia. Mas uma coisa chama a atenção, principalmente nas academias do interior. Segundo Lima, mais de 80% dos instrutores são formados na licenciatura e não no bacharelado, o que os não os habilita a atuar nestes espaços esportivos. “Eles só estão atuando ainda por conta de uma sentença judicial. Mas para as pessoas que são atendidas por eles, isso acaba se tornando um risco, já que estes profissionais não estão preparados para exercer tal atividade em academias, apenas em escolas”, alertou.
Alunos de academias correm perigo ao omitir doenças
Para se evitar quaisquer problemas, já que a atividade física é recomendada para pessoas de qualquer idade, desde que cada um respeite o seu limite, especialistas afirmam que, muitas vezes, por algum tipo de receio, os alunos acabam assumindo a responsabilidade e um grande risco ao não informar, aos instrutores, problemas de saúde que possam impedi-lo de realizar qualquer atividade física.
“As pessoas não podem sair de uma vida sedentária, qualquer que seja a faixa etária, e logo procurar uma academia sem qualquer tipo de informação sobre os benefícios do exercício, sem qualquer avaliação médica, onde poderão ser detectadas doenças como arritmia, hipertensão ou outros problemas que vão ajudar o especialista a dizer ao paciente qual o nível de exercício ao qual ele pode ser submetido”, comentou o médico cardiologista, Jadelson Andrade.
Além os exames, as academias devem ter uma ficha onde o aluno deve preencher algumas informações relativas ao seu estado de saúde. “Isso vai ajudar o instrutor a definir qual a melhor série de exercícios para cada aluno e a progressão que ele terá para atingir o objetivo definido. Aos que tiveram problemas como infarto ou AVC, por exemplo, o tratamento será diferenciado”, destacou Andrade, que isentou de culpa os espaços esportivos pelo fato de alguns alunos não informarem ter qualquer tipo de doença que pode gerar maiores consequências posteriormente. “O que a academia deve prover é uma situação de segurança para qualquer eventualidade, uma estrutura mínima de socorro. Além disso, ela deve ter instrutores qualificados no sentido de orientar o melhor exercício e vigiar o nível de esforço que os alunos estão fazendo”, salientou.
Academias exigem avaliação
Pensando no bem-estar de seus alunos, algumas academias de Salvador, além de exigir a avaliação médica aos que querem praticar atividade física, já dispõem de equipes multidisciplinares para atendê-los. É o caso da academia Sports Authority que, em Salvador, é dirigida pelo empresário Julião Castello, que atua há mais de 25 anos no ramo e tem uma equipe composta por médico, nutricionista, fisioterapeuta e outros profissionais. “Com isso, você minimiza bastante os riscos”, disse ele.
Segundo Castello, a maioria das academias tem um procedimento criterioso de avaliação, o que leva a crer que muitos acidentes, como o que vitimou Jussara, possam ser evitados. “O segredo é trabalhar de forma multidisciplinar, tanto com médicos, quanto com professores e outro especialistas para que a situação seja a ideal, tomando os devidos cuidados”, contou. O artista plástico, Aldo Mendonça, após fazer duas cirurgias de safena e sofrer de diabetes resolveu frenquentar a academia com o objetivo de melhorar a saúde. “Eles pediram todos os exames e prontamente fui fazer. Também melhorei bastante a minha alimentação”, falou. Além da questão estética, a aposentada, Lúcia Gordilho, procurou o espaço esportivo visando justamente prevenir eventuais doenças. “Vim por que quero ter uma melhor qualidade de vida. Antes, fui ao cardiologista que fiz todos os exames possíveis. A prevenção nesses casos é muito importante”, narrou.
Matéria publicada no site Tribuna da Bahia