Quem sofreu um ataque cardíaco pode ter receio de voltar – e até mesmo começar – a realizar uma atividade física. Isso acontece porque poucas pessoas sabem que cardiologistas definem que os exercícios devem ser receitados como qualquer outro remédio. As atividades físicas e a melhora dos pacientes não estão relacionadas apenas quando se fala em problemas cardíacos. Médicos afirmam que mexer o corpo com orientação profissional beneficia qualquer pessoa que sofra de doenças crônicas, como doenças pulmonares, oncológicas, diabete e hipertensão.
A prescrição da atividade física segue a mesma lógica da de medicamentos. A dose do treinamento é específica para cada problema. “Assim como o remédio, fazer atividade física demais ou de menos pode trazer problemas”, explica a fisioterapeuta da Clínica Paranaense de Cardiologia (Clinicor) Eloísa Dias Hanna.
Por isso, a avaliação médica é essencial, assim como o acompanhamento multiprofissional. Eloísa afirma que na Clinicor há, inclusive, uma mini-UTI, preparada para a eventualidade de alguém passar mal durante o treino. A Academia Americana de Cardiologia recomenda que o tempo de atividade física seja de cerca de 180 minutos por semana, distribuídos da forma mais homogênea possível.
Outra variável da dose de atividade é o tempo de internação, mas todos passam pelas mesmas etapas. “A programação é feita entre exercícios aeróbicos, como bicicleta ou esteira, caminhada em ambiente aberto e musculação”, explica o chefe do serviço de Reabilitação Cardíaca do Instituto Nacional de Cardiologia, Daniel Kopiler.
Para começar os exercícios, o problema apresentado também é levado em consideração. No caso da cirurgia cardíaca, os exercícios aeróbicos são indicados para o começo da reabilitação, passando para a musculação depois da cicatrização do esterno (osso que une as costelas na região do peito e que é cortado durante a cirurgia cardíaca). Já no caso de enfarte, as atividades variam conforme a extensão do ataque. Em alguns casos, o enfartado pode buscar um centro de reabilitação logo após a alta.
O tempo do tratamento por meio de exercício não é programado, já que deve acompanhar a pessoa pela vida toda. “A atividade física é benéfica para todos, não apenas os cardíacos, já que é uma forma de prevenir as doenças vasculares. Para quem já as tem, é uma forma de melhorar”, diz o cardiologista Marcelo Queiroga, presidente da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI).
Centros de Reabilitação
O paciente que faz exercício para se recuperar precisa de um acompanhamento multiprofissional, não apenas de um educador físico. Para isso, existem os centros de reabilitação, que orientam quem passa por lá em áreas como cardiologia e fisioterapia. Daniel Kopiler destaca que os centros de reabilitação ainda são poucos e que pessoas de poder aquisitivo menor não têm o mesmo acesso. “Nos Estados Unidos, sabe-se que apenas 15% a 20% das pessoas que tiveram enfarte têm acesso a esses centros. No Brasil, não se tem dados, mas pode-se prever que o número é ainda menor.”
“Coração de atleta”
O aposentado Gabriel Luiz Dodl (foto), 69 anos, sempre praticou esportes diariamente, como natação e kung fu, e tinha o que os cardiologistas chamam de “coração de atleta”. Entretanto, há dez anos, levou um susto quando descobriu que tinha problemas cardíacos. A partir dali foram três intervenções e vários stents – um tubo perfurado que ajuda a impedir a constrição do fluxo por conta do entupimento de artérias. Em 2004, ele voltou a se exercitar três vezes por semana, agora numa clínica especializada e com acompanhamento médico, além de sempre se manter ocupado em casa. Gabriel destaca que o trabalho feito é principalmente nas pernas, já que elas são a sustentação do corpo, e que aproveita esse tempo para meditar. “O exercício físico é fundamental, parece que a gente rejuvenesce”, conta.
Cronograma
Melhor horário para as atividades é dúvida frequente entre pacientes
Uma pergunta constante dos pacientes para os médicos é: qual o melhor horário para fazer o exercício físico? Segundo os cardiologistas, não há muita importância se a atividade é feita de manhã ou à tarde. “É melhor escolher horários em que o sol está mais tranquilo, mas dificilmente o paciente decide fazer ao meio dia”, comenta o presidente da Sociedade Brasileira de Hemodinâmica e Cardiologia Intervencionista (SBHCI), Marcelo Queiroga.
O cirurgião cardiovascular e diretor clínico do Hospital Vita Batel, Luiz Fernando Kubrusly, afirma que um estudo publicado chegou a mostrar que exercícios no período da manhã eram mais perigosos por causa de risco de enfarte, mas que não houve comprovação dessa relação. “Mas, pela experiência que temos, os pacientes que se exercitam pela manhã são os que menos desistem, pois à tarde somos mais vulneráveis a pedidos de amigos e familiares”, afirma.
Intensidade
Frequência cardíaca máxima é aquela que o paciente consegue atingir rapidamente, mas com a qual não deve permanecer por muito tempo. O cálculo é feito com base em uma constante, 220, menos a idade do paciente, explica o cirurgião cardiovascular e diretor clínico do Hospital Vita Batel, Luiz Fernando Kubrusly. Para a pessoa que faz um exercício curativo, a frequência cardíaca deve ficar entre 60% e 70% desse número. Essa conta não vale apenas para quem teve problemas cardíacos, mas para qualquer pessoa que esteja retomando as atividades físicas.