Aulas de Educação Física podem combater o bullying

Estudante propõe aula de educação física voltada para a convivência social em escolas de ensino básico. Seu projeto conquistou o segundo lugar na categoria ‘Ensino Médio’ do 26º Prêmio Jovem Cientista.
 

A jovem cientista Izabel Souza de Jesus Barbosa recebe, da presidente Dilma Rousseff, o prêmio de segundo lugar pelo projeto ‘O esporte no combate ao bullying nas escolas’. (foto: Fundação Roberto Marinho)

 

Com os olhos em 2014 e 2016, o Brasil está voltado para o esporte. Tanto nos grandes eventos mundiais quanto nas quadras escolares, a prática esportiva pode ajudar a resolver problemas sociais. É isso o que sugere o trabalho de Izabel Souza de Jesus Barbosa, segundo colocado na categoria ‘Ensino Médio’ do 26º Prêmio Jovem Cientista, que teve como tema a inovação tecnológica nos esportes.
A proposta da estudante do Instituto de Aplicação Fernando Rodrigues da Silveira (CAp-Uerj) é adaptar as aulas de educação física para combater o bullying através do esporte. O método formulado por Izabel, com orientação da bióloga Débora de Aguiar Lage, sua professora na instituição, é simples: incorporar diversos estilos esportivos às aulas e, em esportes coletivos, compor os times de forma a estimular a interação de diferentes grupos.
Os esportes oferecidos nas aulas seriam escolhidos de modo a refletir a diversidade dos alunos, “iriam do futebol, para estimular o trabalho em equipe, até o xadrez, para inserir os jovens mais afeitos ao raciocínio lógico do que à atividade física”, afirma Débora.
A distribuição dos alunos em grupos nas práticas esportivas seria feita por um conselho de professores, de acordo com o esporte praticado e com base em um mapeamento das ‘tribos’ e das características relacionais de cada aluno. A proposta é formar grupos heterogêneos, que não se formariam naturalmente.
A leitura de artigos sobre dislexia despertou o interesse de Izabel por métodos de inclusão de alunos especiais nas escolas e acabou influenciando sua proposta para o prêmio. “Como o projeto tinha que ser voltado ao esporte, ela propôs esse trabalho, aplicando suas ideias de inclusão às aulas de educação física”, explica a orientadora.

Todas as tribos

A pesquisa de Izabel teve duas etapas. Na primeira, 44 estudantes do ensino médio da Escola Técnica do Arsenal de Marinha (Etam), com média etária de 18 anos, responderam, de forma anônima, um questionário apontando os esportes de preferência dos estudantes, os ambientes escolares com mais casos de bullying e ações da diretoria escolar para combater essa prática. “A maioria disse que a escola não fazia nada”, revela Débora.
Também se perguntou o que os alunos consideravam como bullying e quais os principais motivos que levavam a ele. Nas respostas, a dupla percebeu que a maior parte dos alunos apontava a existência de diferentes grupos sociais e a intolerância entre eles como as maiores causas do bullying nas escolas. Assim, foi elaborado um segundo questionário, sobre a existência de tribos urbanas.
Este trazia uma lista com 23 nomes de tribos que iam desde as mais abrangentes, como ‘alternativos’, até as mais específicas, como ‘otakus’ (fãs de animações japonesas e mangás). “Esses nomes partiram de observações da aluna sobre o que normalmente se falava dentro das escolas; havia alguns nomes que eu nem sabia o que significavam”, confessa Débora.
Cerca de 60 estudantes do CAp-Uerj e mais duas escolas particulares do Rio de Janeiro, com idades entre 13 e 18 anos, responderam ao novo questionário, indicando em que tribo ou tribos se encaixavam.
A partir dos resultados, Izabel verificou que os ambientes da sala de aula, pátio e corredores tiveram a maior incidência de bullying, e que o futebol e o voleibol foram os esportes mais populares entre os alunos ouvidos. Ela percebeu também que, mesmo em escolas onde a diretoria não se envolvia em ações antibullying, as aulas de educação física abriam espaço para a interação dos diferentes grupos.
Além de incluir esportes de menor popularidade nos testes (como badminton e críquete), a estudante criou um sistema de avaliação em que dois terços da nota atribuída ao aluno deveriam ser referentes à sua capacidade de desenvolver atividades em equipe.
Em seu projeto, ela também ressalta a importância da interação entre a coordenação das escolas e as famílias, tanto daqueles que sofrem quanto dos que praticam o bullying.
Após publicarem os resultados da pesquisa em periódico acadêmico, Izabel e Débora pretendem promover a divulgação do projeto para que o método proposto comece a ser adotado nas escolas.
Fonte: Portal Ciência Hoje On-line

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