Ballet para adultas

Desde a infância, as meninas sonham em aderir ao mundo das sapatilhas, saias ‘tutu’ e coques. A vontade de se tornarem bailarinas surge inicialmente, e na maior parte das vezes, através das mães, que normalmente fazem planos e incentivam as pequenas a iniciarem as aulas de ballet o quanto antes.
No entanto, em algumas academias de dança a barra de ballet já não pertence mais somente às crianças ou às profissionais de dança. Muitas mulheres estão buscando o ballet depois de adultas; seja para melhorar o condicionamento físico, para realizar um sonho de infância ou mesmo por hobby. Além de uma frustração resolvida, as mulheres descobrem nesse tipo de aula uma maneira de melhorar o corpo e a mente.
A professora de ballet clássico, Maria Izabel Martins da Silva, a Bebel, que dá aula em inúmeros colégios em Hortolândia e na academia feminina Tônus, explica que um dos benefícios de se iniciar o ballet depois dos 18 anos é que uma mulher adulta já conhece o próprio corpo e seus limites. “Nessa fase a mulher já entende a maneira de executar o movimento, mesmo que, no começo, com dificuldade. O processo de aperfeiçoamento será mais rápido do que no ballet infantil”, diz. “O ballet, quando iniciado na fase adulta, ao contrário do que muitos pensam, traz grande desempenho físico, trabalhando estruturas do corpo já esquecidas por conta da idade, como por exemplo flexibilidade, postura, equilíbrio, coordenação motora e resistência física. Quem pratica o ballet desempenha uma nova expressão fácil. Além disso, o ballet é um ótimo exercício para a mente e para o bem-estar, porque trabalha principalmente o abdômen, pernas, respiração e coluna, então tudo o que envolve essas partes terão benefícios, tanto para a saúde quanto para a estética”, completa.
Bebel conta que, a média de idade de mulheres que procuram as aulas variam entre 20 e 45 anos, e que o motivo que as leva à academia de ballet, geralmente, é o sonho de infância não realizado de se tornarem bailarinas. “Há uma grande procura de mulheres que fizeram ballet na infância e que, por algum motivo, precisaram parar. Outras, tinham o sonho de infância e só conseguiram realizar depois que ficaram independentes financeiramente. E também tem aquelas que levam suas filhas para fazerem aulas de ballet e acabam se interessando, aproveitando o momento em que as filhas estão em aula para fazerem também. Um exemplo disso é que, uma jogada das academias de dança é colocar aula para adultos no mesmo horário da turma infantil”, destaca.
Cristiane Fonseca, 32, é servidora pública, formada em música e adepta do ballet. “Comecei a fazer as aulas de ballet clássico em 2013, mas nunca havia dançado. Fui de curiosa e no intuito de fazer alguma atividade física, pois trabalho muito tempo na frente do computador. Para mim foi importante também para espairecer a cabeça e me desligar do mundo do estresse”, conta. “Das 20 alunas que frequentavam as aulas comigo, apenas duas ou três já tinham estudado ballet na infância. As demais, só tiveram essa oportunidade agora, pois não tinham condições financeiras para pagar as aulas de ballet na infância e agora têm. Além disso, ainda são poucas as escolas que oferecem o ballet funcional, ou seja, aulas de ballet para mulheres que não têm o objetivo de se tornarem bailarinas profissionais. Ou, algumas academias que têm essas aulas de ballet funcional não divulgam tanto quando deveriam. Algumas mulheres só não fazem as aulas por falta de informação. Mas a verdade é que não tem idade para começar a dançar. Na minha sala, por exemplo, tinha uma senhora de 60 anos, que já era avó, e sempre foi apaixonada por dança”, acrescenta.
Outra apaixonada pelas sapatilhas é a jornalista Jéssica Welma, de 24 anos. Ela dança desde 2014. “Não sei se tenho uma motivação específica para dançar. Acho que a paixão pela dança já nasceu comigo, só não pude desenvolvê-la como gostaria. O pontapé inicial para investir nas aulas aconteceu por indicação da minha ginecologista, para aliviar sintomas da TPM”, observa. “O ballet é um sonho de infância. Infelizmente, não tive acesso ao ballet, por motivos de distância e custos para se investir na modalidade. Por um bom tempo, a maior dificuldade foi conciliar horários. Só após terminar a faculdade, descobri uma escola de ballet que tinha aula para adultos aos sábados à tarde. Foi aí que tudo pôde começar de fato”, lembra.
Mesmo com a paixão pela dança, as exigências da ‘vida adulta’ já foram motivos para Jéssica pensar em desistir do sonho de infância. “Já pensei em parar. Uma das vezes foi no começo do ballet. Eu achava que não iria acompanhar a turma do ballet adulto, decorar os nomes das posições, ter força para os saltos, elasticidade… É necessário ter consciência de que o ballet é uma dança com muitos detalhes e, como muita coisa na vida, requer tempo para você se habituar. Hoje, não tenho mais vontade de parar por causa disso. Eu sou jornalista e isso significa horas extras em alguns dias e plantões no fins de semana. Não é fácil conciliar, até porque o ballet exige muita disciplina em relação à frequência nas aulas. Eu coloquei na minha cabeça que o ballet não é vaidade, é uma necessidade. A minha saúde depende dele também. Tenho um compromisso com o ballet e evito ao máximo atrapalhá-lo”, diz.
Para quem está pensando em começar a pratica, ela garante: vale a pena. “É importante tratar sobre o ballet adulto e seus benefícios. O desconhecimento da dança e do que ela propõe a oferecer gera preconceitos. Quando eu comecei a fazer ballet, encontrei muitas pessoas descrentes do potencial desenvolvimento que um adulto pode ter. Muita gente ainda pensa que ballet é ‘coisa de criança’. O meu conselho é: faça um teste. Os resultados, principalmente em relação ao bem-estar, compensam o esforço”, aconselha.
A professora Bebel explica que não há restrições de idade ou tipo físico para se iniciar as aulas, que duram cerca de 1h30 e são realizadas duas vezes por semana. “As aulas do ballet adulto são diferentes das aulas das crianças. Nas aulas infantis, eles começam de uma maneira completamente lúdica, com músicas e brincadeiras que ‘disfarçam’ os exercícios. Já na fase adulta o ponto principal é ‘acordar’ o corpo adormecido. O ballet adulto normalmente inicia de uma maneira leve, para iniciantes. E mesmo sendo leve, para elas que estão em um ritmo sedentário, acaba sendo um pouco puxado. Mas rapidamente o corpo se adapta à intensidade, podendo assim aumentar o grau de dificuldade. Essas aulas focam em exercícios na barra, com movimentos mais finos como alongamentos, aquecimento, ‘port de brás’ e ‘plié’, e no centro, com movimentos de baterias como saltos, giros, equilíbrio e aperfeiçoamento dos exercícios da barra”, explica. “Desde que a praticante saiba seus limites e faça as aulas com consciência, não terá nenhum problema. E por isso, o ballet é sim permitido para todos”, conclui.
Ballet trainning
O ballet trainning, conhecido em algumas academias como ballet fitness ou ballet funcional, é outra opção para as mulheres que sonham em dançar, mas querem fugir do tradicional ballet clássico.
“O ballet trainning é uma mistura de ballet clássico com musculação. É uma aula dinâmica, com músicas que fogem do clássico e que motivam as alunas. Os exercícios são baseados no pilates, na musculação e nos passos básicos do ballet. Tudo está ligado. Normalmente quem pratica está em busca de conhecer um pouco mais sobre o ballet e realizar o sonho de dançar. O ballet trainning é uma modalidade apenas de sala de aula, para a tonificação e correções corporais”, explica a professora Laiane Caetano, que dá aulas desta modalidade na academia She Moves, em Indaiatuba.
Laiane diz que também não há restrições para praticar o ballet trainning e que não é necessário ter conhecimento prévio do ballet clássico, pois tudo é ensinado durante as aulas, com correções de postura e posicionamento dos pés. “O ballet clássico trabalha a técnica da dança, com poucas repetições de passos, rigidez e músicas clássicas. Já o ballet trainning está mais voltado para o corpo, com exercícios de muitas repetições e músicas mais descontraídas. Mas, o prazer em se sentir bailarina, principalmente para quem nunca dançou, é delicioso. As aulas são trabalhadas em três partes: a parte solo, onde os exercícios são parecidos com pilates, trabalhando mais o abdômen; a barra, onde o ballet entra com toda a força, buscando exercícios do clássico com muitas repetições, correções de postura e tonificação das pernas; e ao centro da sala, onde podemos mesclar as duas primeiras partes e acrescentar exercícios aeróbico, para melhorar o condicionamento cardiovascular. A aula de ballet, portanto, está mascarada com a musculação. É muito mais fácil quebrar os tabus sobre o ballet quando ele está aliado à outra atividade. Assim, até o medo diminui”, explica.
Carla Midori Galo, administradora de empresas, 43, pratica o ballet trainning há um ano e oito meses. “Já sonhei em fazer ballet mas não tinha condições financeiras, então, não pude fazer quando criança. Não tinha conhecimento algum sobre ballet e nem facilidade em danças, mas a professora [Laiane] me incentivou. O ballet trainning me ajuda mentalmente, é delicioso e relaxa muito. Além disso, melhora a postura, tonifica os músculos, traz flexibilidade, autoestima e companhia”, conta.
A professora Tatiana Milani Modesto, 30, também faz aulas de ballet trainning. “Eu pratico o ballet há um ano e oito meses. Comecei porque amo dançar e sempre tive vontade de fazer ballet. Não tinha nenhum conhecimento sobre o ballet, porém, por gostar muito, tenho facilidade com dança. No começo, não fiquei com receio, mesmo achando um pouco difícil… Logo me apaixonei pela aula. O ballet trainning melhora minha flexibilidade, tonifica a musculatura, melhora a postura e trabalha a socialização; uma vez que a companhia que temos durante às aulas nos faz muito bem. Fazer ballet depois de adulta parece meio inconveniente, mas, com o ballet trainning essa imagem se desfaz, uma vez que os movimentos e exercícios são adaptados para que todos possam executá-los”, finaliza.
Matéria publicada no site Pagina Popular
 

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