Hidroginástica: aliada do emagrecimento, atividade vai além do público idoso

. Exercícios mais intensos dentro d’água garantem maior
gasto calórico com menos impacto, sendo essencial inclusive para quem precisa
dar um fim na obesidade.
 
 
Popular entre a terceira idade, principalmente depois de sua
ampla divulgação na década de 1990, a hidroginástica costuma ser encarada com
cautela pela população mais jovem. “Antigamente a hidroginástica era feita
pelos idosos pelo fato de ela ter um impacto muito reduzido e, por isso, sempre
foi muito indicada pelos médicos para idosos com problemas articulares, de
coluna etc”, conta Vera Lucia Gonçalves, especialista em hidroginástica,
professora da disciplina de atividades aquáticas das Faculdades Metropolitanas
Unidas (FMU) e responsável pela hidroginástica do Centro de Práticas Esportivas
da Universidade de São Paulo (CEPEUSP), “hoje ela está mais modernizada tanto
na parte técnico-pedagógica quanto nos equipamentos e é praticada por todo
mundo”.
 
Com pouquíssimas restrições, a hidroginástica tem sido cada
vez mais utilizada principalmente por pessoas obesas que precisam reduzir o
peso em pouco tempo, mas que não podem fazer atividades de impacto para não
prejudicar as articulações.
 
Hidroginástica tem alto gasto calórico
 
Diversos estudos apontam atualmente que, para emagrecer
fazer apenas dieta ou exercício não é eficaz, mas sim a combinação dos dois
elementos simultaneamente. “E os estudos mostram que não basta mais só fazer
aeróbico. É também importante fazer um trabalho neuromuscular, porque quando
você trabalha os músculos, além de demandar um gasto de energia maior, aumenta
o tamanho desse músculo e, com ele maior, vai requerer mais calorias.
Normalmente as pessoas precisam treinar aeróbico e neuromuscular separadamente
e o grande lance da hidroginástica é que, pelo fato de estar dentro da água,
você trabalha com forças que se somam e tem a resistência do meio”, explica
Vera.
 
Nino Aboarrage, professor de biomecânica na Universidade
Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e mestre em ciência da motricidade
humana, lembra a lei da física que prega que para cada ação há uma reação.
Assim, “o profissional de educação física precisa ter conhecimentos específicos
das propriedades físicas da água para poder usar a resistência do meio para
poder treinar o sistema muscular. Acreditamos que a água é um meio mais
resistente que o ar e quanto mais força você aplica contra ela, mais esforço
trabalha no corpo e o cardiorrespiratório vem junto, pegando carona. Maior
intensidade, maior o gasto calórico e já posso trabalhar no emagrecimento”,
afirma.
 
Para determinar qual é o gasto calórico de uma atividade
física é preciso levar em consideração duas situações básicas, segundo Aylton
Figueira, professor de fisiologia do exercício na FMU e na Universidade São
Judas, doutor na área de adaptação humana e atividade física: a duração da
atividade física – no caso da hidroginástica, cerca de 45 minutos a aula – e a
intensidade da aula, o quanto ela aumenta os batimentos cardíacos e o consumo
de oxigênio pelo corpo. “Esses são dois pontos básicos, porém duas pessoas fazendo
a mesma aula, nas mesmas duração e intensidade, provavelmente terão gastos
calóricos diferentes porque cada um tem uma individualidade que é o peso
corporal”, explica.
 
O professor da FMU conta ainda que, apesar de o gasto
calórico ser individualizado, é possível estima-lo de acordo com a intensidade
de alguns exercícios. Assim, uma aula de hidroginástica tem gasto calórico de
cerca de 5,5 calorias/minuto, enquanto a caminhada rápida na água se enquadra
na categoria de atividade moderada, quase vigorosa, com gasto de 7,4
calorias/minuto e a caminhada leve, dentro da piscina, 2,5 calorias/minuto. Em
repouso absoluto, o gasto é de 1 caloria/minuto.
 
Por causa do peso, muitas pessoas com sobrepeso não podem se
exercitar fora da água pelo risco de se lesionar por conta do impacto e para
acelerar o emagrecimento, vão malhar dentro da piscina de forma mais intensa
para intensificar o gasto calórico. Aboarrage conta que deu consultoria para um
hospital que trabalhava com obesos mórbidos que precisavam perder peso para
fazer a cirurgia bariátrica e após um trabalho de hidroginástica mais intensa
do que os exercícios que os pacientes conseguiam fazer no seco, os resultados
foram ótimos: “teve gente que conseguiu perder 30 kg, outros perderam 60 kg.
Pra quem pesa 200 kg, 60 não é nada, mas é praticamente outra pessoa”, lembra o
professor.
 
Figueira destaca que a gordura flutua mais do que o músculo
dentro da água e como o obeso tem mais gordura do que músculo, sua redução de
peso dentro da piscina é maior do que a das outras pessoas. Assim, alguém com
120 kg poderia reduzir para 80 kg dentro d’água e a hidroginástica leve
induziria a um gasto calórico aproximado de 5,5 calorias/minuto, o que é muito
melhor do que se ele estivesse parado. Já para quem está apenas um pouco
gordinho, os exercícios em terra são mais indicados para ter resultados
melhores, segundo Figueira: “a hidroginástica é muito importante para o
gordinho se for usada como um trabalho complementar no programa de
emagrecimento. Colocar nela a responsabilidade única de emagrecê-lo é um pouco
demais.”
 
Hidroginástica: treino forte
 
Figueira conta que dentro da piscina, com a água batendo na
altura dos ombros, o corpo pesa 80% menos do que fora da água. Assim, um
indivíduo que pesa 100 kg, com a água na altura do peito tem seu peso reduzido
para 80 kg e, dessa forma, se fizer o exercício fora da água em intensidade
moderada, terá um gasto calórico diferente de fazê-lo dentro da piscina por
causa da redução de peso. “Para compensar isso preciso ter implementos como
acessórios e o ritmo da aula para que o gasto calórico possa volta a subir,
caso contrário, seria uma intensidade baixa que promoveria um gasto calórico e
um emagrecimento menores. Como a água tem uma resistência constante, se fizer a
atividade com mais profundidade, tem que deslocar mais água e tem a compensação
da resposta cardíaca a esse esforço, promovendo um gasto maior de calorias”,
ensina o professor da FMU.
 
Vera lembra que a atividade tem mínimo impacto, mas também
pode ser realizada também sem impacto algum: “é o que chamamos de deep water,
na qual não se toca o fundo da piscina e é ótimo para quem quer emagrecer”.
Luvas, remos, aquafins, tornozeleiras resistidas são alguns dos acessórios que
podem ser usados dentro da água para acelerar o gasto calórico durante a
hidroginástica, tornando-a mais intensa e animada, porque aumenta a resistência
contra a água e o esforço demandado para realizar a atividade física.
 
“Pra fazer uma aula forte, com gasto energético alto, pode
usar o método do interval training com luva ou ainda trabalhar em suspensão, já
que o aluno não tem apoio em momento algum e não dá descanso para a
musculatura, recrutando mais grupos musculares ao mesmo tempo e aumentando o
gasto calórico”, ensina a professora da FMU. Para fazer um treino desses, de
deep water, a profundidade da piscina varia de acordo com a estatura do aluno,
mas Vera explica que acima de 1,60 de profundidade já consegue trabalhar um
pouco de suspensão.
 
Hidroginástica é popular na terceira idade
 
A hidroginástica ainda é bastante popular entre a terceira
idade, mas Aboarrage critica a falta de consciência corporal que existe em
algumas aulas pelo país e puxa a orelha dos profissionais de educação física:
“é nosso dever levar essa conscientização até o aluno”. Ele explica que muitos
alunos enxergam na hidroginástica uma atividade social e passam mais tempo
conversando do que se exercitando, o que prejudica o desempenho da aula e o resultado
do exercício. “Não pode perder o foco. Com a idade, o ser humano perde força e
potência se não forem desenvolvidas e, se vai pra hidroginástica e não tem
foco, fica conversando, acaba piorando, no meu ponto de vista, porque não vai
trabalhar a resistência. Nosso objetivo é levar independência principalmente
aos idosos para que possam atravessar uma rua com mais agilidade, subir e
descer do ônibus sozinho etc.”
 
Figueira lembra que a aula de hidroginástica para a terceira
idade é confortável, porque uma caminhada em terra, por exemplo, cria um
esforço de 30 a 40% maior do que dentro d’água. Além disso, é preciso caprichar
no ritmo acelerado da aula para oferecer vantagens a esse público. “Dentro da
água a frequência cardíaca de qualquer pessoa é menor. A água tem esse fator de
redução que vai de 17 a 20 batimentos por minuto, em média”, alerta Figueira,
que recomenda a combinação de hidroginástica e musculação na rotina de
exercícios da terceira idade para criar a preservação das massas óssea e muscular.
 
O que fazer para chamar a atenção dos alunos para a
hidroginástica?
 
Para chamar a atenção dos alunos para a hidroginástica nas
academias, muitos gestores têm investido em inovações. Vera lembra que o nome
hidroginástica é bastante genérico e demanda qualquer tipo de esporte dentro da
água, embora o senso-comum associe o exercício à turma da terceira idade
batendo papo dentro da piscina enquanto manipula alguns rolos de espuma.
 
Kickboxing, deep running (corrida na água), spinning
aquático, aulas de trampolim na piscina, entre várias outras possibilidades,
podem ser praticadas na aula de hidroginástica, sempre potencializando o gasto
calórico por estar dentro da água. “Atendemos todos os públicos. Não é mais uma
aula molengona”, brinca Vera.
 
Especialização em técnicas aquáticas
 
Vera e Aboarrage são categóricos ao afirmar que o
profissional de educação física deve buscar o aprimoramento da técnica aquática
para poder dar uma boa aula de hidroginástica, em especial para atender a
públicos especiais, como os obesos.
 
“Na faculdade, infelizmente, não se recebe esse tipo de
formação. Não existe ainda uma pós em hidroginástica, mas existe em atividades
aquáticas, com cerca de 20 horas de hidro. Assim, acho que tem que fazer cursos
livres e correr atrás pra se especializar nessas aulas”, sugere Vera.
 
Nino Aboarrage costuma dar palestras em eventos e congressos
e já lançou o Manual do Profissional do Fitness Aquático que aborda tanto o
comportamento do professor, a resistência do meio etc e tem uma prova para certificar
o profissional de educação física. “Lançamos esse mês também uma série de três
DVDs com exercícios simples e divertidos para que os profissionais consigam
visualizar as atividades”, indica, destacando que os DVDs podem ser adquiridos
diretamente no site www.hidroesporte.com.br.
 
Para o gestor, oferecer a hidroginástica em sua academia é
um bom negócio: “há um tempo atrás havia o paradigma de que a piscina era muito
cara, mas o equipamento de ginástica também é. O gestor tem que ver como vai
usar para ter retorno”, conta Aboarrage, que destaca que o gestor precisa se
informar sobre qual é o tipo de piscina mais adequada para a sua necessidade,
com tamanho que comporte uma turma que o profissional de educação física
consiga atender sem deixar ninguém sem atenção.
 
Portal EF

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