Praticar exercícios físicos com os filhos logo após o parto é possível


Um forró pé de serra toca baixinho e inusitados casais dançam pelo salão. Em vez de eles cochicharem em paqueras, o que se escuta são elogios no diminutivo e, aqui ou acolá, uma choradeira que passa rápido quando o embalo fica maior. Estamos em uma aula de dança com sling e, enrolados naquele tecido, estão bebês sendo conduzidos pelas mães, que não querem saber de ficar paradas depois do parto. A palavra inglesa sling, sem equivalente no português, é o que podemos chamar de porta-bebê: um tecido em forma de tira que tem entre 4m e 5m e, enrolado ao corpo da mãe, dá ao filhote um espaço que lembra muito a bolsa abdominal que os cangurus têm.
Nas aulas da professora de educação física Dani Rico, ele é usado para dar mobilidade às mamães que pretendem garantir uma rotina de exercícios após o parto, mas não querem ficar longe dos filhos nesse meio tempo. “O sling é um método canguru. Ele é usado nos hospitais com os bebês prematuros para mantê-los corpo a corpo, pele a pele. É um retorno do bebê ao útero. A mãe consegue comer, fazer suas atividades diárias, arrumar a casa, com mais praticidade”, explica.
Nas atividades que desenvolve, o sling é usado com dança. Assim, além de se manterem perto do filho, as mulheres podem se movimentar com mais agilidade, sem que isso cause transtorno para o bebê e sem que ele precise ficar de lado. “Ela é uma modalidade que permite um ninar, durante o exercício. O bebê dorme, relaxa, e a mãe pode se exercitar com o bebê grudado nela”, explica Dani. Engana-se quem ainda pensa que a mulher precisa apenas repousar antes e depois do parto.
A gravidez e sua fase subsequente pedem movimento, até para garantir que a mulher relaxe mais o próprio corpo para suportar as mudanças que essas fases trazem. “Estava obesa antes da gravidez. Fui procurar o que poderia fazer. O exercício ajuda porque você se mantém ativa e acabei ganhando menos peso do que achei que ganharia” conta a professora Valéria Fernandes da Silva, 38 anos, mãe de Júlia, de 4 meses.
Após o nascimento da menina, ela esperou o primeiro mês de resguardo — a recomendação geral para atividades físicas pós-parto — e encontrou na dança com sling sua prática preferida. “O sling ajuda bastante. Fora que é muito reconfortante ter o bebê perto, bem grudado em mim. Se você amarra bem, você acredita, o bebê acredita e os dois vão juntos. Eu me sinto livre também na hora do exercício. Sou bem descoordenada, mas é divertido. E, normalmente, o bebê dorme ao longo da aula”, completa.
O pediatra Carlos Jansen assegura que a mulher que se mantém ativa antes e depois do parto pode ter mais vantagens. Claro, sem visar demais a estética, mas apenas a manutenção de um trabalho físico que garanta a ela um reforço na musculatura. “Isso vai ajudá-la na hora das contrações e também melhora sua autoestima, já que há liberação de endorfinas”, explica. Porém, o médico alerta que o tempo após o parto para que a mulher volte a praticar essas atividades vai ser decidido pelo obstetra. “Porque tudo depende das condições dela após o nascimento do bebê. Cada uma vai reagir de forma diferente e somente o médico poderá dizer a hora certa de voltar”, completa.
De acordo com a instrutora de ioga Joana Andrade, manter-se em atividade é imprescindível para mamães grávidas e para as que já estão com os bebês no colo. E, no caso de um processo delicado, como ter um filho, ela garante que a ioga é indicada em todos os momentos. “A maioria das mulheres com quem trabalho está em busca de uma preparação para um parto normal e humanizado. E elas associam a prática da ioga a essa preparação e também na busca por uma melhor qualidade de vida durante o período gestacional”, afirma.
A prática da ioga com o bebê — chamada ioga baby — é, de acordo com ela, um momento em que as mamães podem praticar algo sem que precisem se distanciar dos filhos. “O grande diferencial é estar em um grupo com outras mulheres e falar de tudo que envolve esse momento. O perfil que trabalho não são mulheres que estão em busca de estética. Mas o intuito é socializar, ao mesmo tempo em que é feita uma prática que é mais calmante.”
Joana explica que as posições clássicas da ioga são adaptadas à realidade da maternidade. Segundo a instrutora, o desafio é mostrar às mulheres que elas podem minimizar os desconfortos da gestação e, após o parto, continuarem ativas junto do bebê. “São posturas muito específicas, que buscam minimizar dificuldades, como dores no nervo ciático, na região lombar, falta de ar, preparação para o períneo. No pós-parto, o desafio ainda é maior. Não há prática direcionada. Se as crianças choram, elas param e vão amamentar. Não há rotina.”
A analista de redes sociais Ana Rosa, 33 anos, teve sua filha há um mês. Já havia praticado esportes, mas estava parada havia muito tempo quando descobriu que estava grávida. “Sentia muita dor no nervo ciático nos três primeiros meses. Passava a maior parte do tempo prostrada no sofá, debilitada mesmo”, recorda. Uma amiga indicou a ioga e, garante Ana, ela parou de sentir dores a partir da segunda aula. “Também não tive inchaço na perna. Exceto pela barriga, nada indicava que eu estava grávida.”
Seu parto foi em casa e ela explica que a ioga a ajudou a desenvolver a respiração, o que foi decisivo para um parto tranquilo. “Tive um parto longo e a experiência com ela foi determinante para que eu passasse por ele bem.” Hoje, Ana só espera o momento em que poderá voltar às atividades, principalmente porque vai poder levar a filha junto. “Quero que ela cresça e possa contar que foi a mãe que a iniciou nisso desde antes de ela nascer.”
Dani Rico elenca uma série de vantagens para as mulheres que não ficam em casa esperando o momento de a criança chegar. “O exercício evita dores, desconfortos causados pelas mudanças posturais adquiridas pelo aumento do tamanho da barriga, mantém a musculatura ativa, amenizando as dores e também controla o peso. Se ela faz atividade física, tem um bom sono, consegue trabalhar melhor. E, pelo fato de estarem em grupo, elas estão sempre trocando figurinhas.”
A cirurgiã dentista Luciana Mendoça Carapito Caixeta, 26 anos, mãe de Paulo Henrique, de 3 meses, diz que passou longe das reclamações comuns das outras mães em relação à sua gravidez. Mesmo tendo ouvido críticas das mulheres mais velhas da família, assegura que a decisão foi acertada, inclusive agora, que pratica dança com o sling. “A mobilidade que ele dá é grande. Uso muito para sair de casa, porque o bebê fica junto de você. Pode colocá-lo para dormir, dar de mamar. É maravilhosa a experiência”, finaliza.

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