Treino em jejum está na moda, mas prática é arriscada para a saúde

Batizada de AEJ, técnica que prega a prática de atividade física com o estômago vazio é polêmica. Apesar da queima de gordura, especialistas alertam para riscos à saúde.
Existe uma fórmula ideal para perder peso e ganhar massa muscular? A resposta parece bem simples: alimentação balanceada mais atividade física. A recomendação da prática de exercícios de no mínimo meia hora e pelo menos três vezes por semana, comer de três em três horas e beber muita água é unânime entre especialistas em nutrição e educação física. As divergências são em relação ao volume e intensidade dos treinos, e o que se pode ou não comer, inclusive, antes e após a ginástica para um melhor resultado, levando em conta a singularidade e objetivo de cada pessoa. Método de emagrecimento bastante polêmico e que levanta muita discussões é a malhação com o estômago vazio. Batizada com a sigla AEJ (aeróbico em jejum), a técnica consiste na prática de atividades aeróbicas, de baixa ou moderada intensidade, logo após acordar, com duração de 20 a 30 minutos, com o objetivo de diminuir a gordura corporal.
Já bem popular entre fisiculturistas, a AEJ vem ganhado cada vez mais adeptos nas academias entre pessoas que aderiram a musculação em busca do corpo prefeito. Doutor em química biológica e professor do Departamento de Nutrição da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Tiago Costa Leite é um estudioso do método. No Dia Nacional de Luta contra a Obesidade, em 23 de maio, ele participou de congresso em Belo Horizonte, no Uni-BH, para debater temas como exercícios em jejum e modulação nutricional. No evento, Leite apresentou estudos confirmando a eficácia de que atividades físicas praticadas de barriga vazia, além de emagrecer, proporcionam melhor rendimento ao longo do dia.
Embora afirme que o AEJ funciona, ele faz um alerta: a prática sem acompanhamento de profissionais pode causar danos à saúde e o método não é indicado a todas as pessoas. “O método é muito utilizado por atletas de alta performance, que geralmente têm um percentual de gordura muito baixo e um preparo físico muito acima da média da população”, afirma Leite.
Graduado também em educação física e nutrição, o especialista explica que muitos dos defensores da técnica maximizam o processo de emagrecimento. A base teórica do AEJ, segundo ele, é a seguinte: durante o sono, o corpo continua trabalhando, sem se alimentar acaba utilizando as reservas de glicogênio. Com seis ou oito horas dormindo, a reserva de glicogênio do organismo baixa, então ele passa utilizar a gordura como fonte de energia. Ou seja, ao acordar em jejum, o corpo queimará basicamente gordura, em detrimento de carboidratos. “Manter o organismo em privação de alimentos induz a maior queima de gorduras durante o esforço físico. Ao realizar o desjejum rico em carboidratos, o gasto de gordura diminui e, consequentemente, o carboidrato contido na refeição pré-treino passa a ser queimado”, explica.
GLICOGÊNIO
Já os contrários à prática do AEJ, de acordo com Leite, apontam como fatores negativos os possíveis efeitos colaterais, como a hipoglicemia – diminuição do nível de glicose no sangue – e a perda de massa magra. A hipoglicemia pode se instalar pelo fato de que as reservas de glicogênio corporal especialmente o glicogênio hepático (responsável por manter a glicemia dentro da faixa de normalidade) possa ter sido parcialmente absorvido após a noite de ono. Nesse caso, quando o glicogênio hepático é exaurido, a manutenção da glicemia decorre de outro processo, denominado gliconeogênese, a formação de um novo açúcar. O principal substrato para a gliconeogênese são os aminoácidos oriundos da degradação muscular.
“No meu ponto de vista não existem esses dois extremos que tentam colocar quando se aborda o tema. Posso afirmar que realmente há maior queima de gordura quando se pratica o AEJ, e que o resultado é melhor durante a atividade aeróbica”, informa o especialista. Segundo ele, em jejum, sem a glicose proveniente dos alimentos, o corpo usa um mecanismo de proteção que faz com que a pessoa diminua o consumo da glicose e aumente a utilização de gordura. Quem treina alimentado, tem a perda de gordura diminuída durante a atividade física, já que o corpo tem a glicose para gastar. Nesse caso, o organismo demora cerca de 30 minutos para começar a utilizar a gordura como fonte de energia.
RESSALVAS
A conclusão do estudo apresentado por Leite é que em jejum a queima de gordura é mais rápida. O fato de uma pessoa estar sem ou com pouco glicogênio residual pela manhã, consegue-se em pouco tempo de exercício a perda de peso exclusivamente em gordura, com apenas 20 ou 40 minutos no máximo. Como o organismo continua utilizando a gordura como fonte de energia pelo menos meia hora após o término da atividade física, para aproveitar ainda melhor a queima, o mais indicado é esperar esse tempo para fazer a primeira refeição, que deverá conter carboidrato, proteína e gordura boa.
Octávio Carneiro Siqueira da Costa é formado em educação físico, compete como fisioculturista e é adepto do AEJ há 10 anos. Ele confirma a eficácia do método, mas faz ressalvas para quem está pensando em aderi-lo como caminho para queimar gordura. Para Costa, somente pessoas acostumadas a praticar atividades física devem tentar o treino em jejum. Ainda assim, é imprescindível fazer exames fisiológicos e físicos e ter o acompanhamento de um médico, de um profissional da área de nutrição e só treinar ao lado do educador físico. “Não adianta colocar um sedentário, acima do peso, numa esteira, de jejum. Com certeza, ele vai se sentir mal”, explica Costa. Para Costa, o AEJ é só uma ferramenta de curto prazo, e não se deve estimular a prática de forma contínua.
Matéria publicada no site UAI
 

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