Para pesquisadora, treino de resistência e alimentação geram “transformação”
Novas pesquisas revelam que a resposta pode estar, em parte, em nosso DNA. Fazer exercícios, segundo um dos estudos, muda o formato e a maneira de nossos genes funcionarem, um processo importante para melhorar a saúde e a forma física.
O genoma humano é assustadoramente complexo e dinâmico, com genes continuamente ligando-se e desligando-se, dependendo dos sinais bioquímicos que recebem do corpo. Quando os genes estão ligados, eles se expressam produzindo proteínas que levam a certas respostas fisiológicas em outras partes do corpo. Os cientistas sabem que alguns genes se tornam ativos ou não como resultados de exercícios físicos. Mas ainda não entendiam de que maneira esse genes sabiam como responder aos exercícios.
É aí que entra a epigenética. Mudanças epigenéticas acontecem fora do gene, principalmente por meio de um processo chamado metilação, em que grupos de átomos, denominados grupos metila, se prendem à parte externa de um gene como moluscos microscópicos e fazem com que se torne mais ou menos capaz de receber e responder a sinais bioquímicos do corpo.
Os cientistas sabem que os padrões de metilação se transformam de acordo com o estilo de vida. Comer algumas coisas ou estar exposto a poluentes, por exemplo, têm o poder de mudar os padrões de metilação de alguns genes em nosso DNA e afetar que proteínas eles expressam. Dependendo de quais genes estão envolvidos, também podem afetar nossa saúde e o risco de doenças.
Muito menos se sabe sobre a relação entre exercícios físicos e metilação. Algumas pequenas pesquisas descobriram que apenas um período de exercícios leva a mudanças imediatas nos padrões de metilação de certos genes nas células musculares. Mas se o treinamento físico contínuo e regular realmente afeta a metilação, ou de que maneira, ainda não se sabe.
O ESTUDO. Em um estudo publicado em dezembro mês na “Epigenetics”, cientistas do Karolisnka Institute, em Estocolmo, recrutaram 23 jovens saudáveis, passaram a eles uma série de exercícios físicos e exames médicos, incluindo uma biópsia muscular, e depois pediram que exercitassem metade da parte da baixo do corpo por três meses.
Usando análises genômicas sofisticadas, os pesquisadores determinaram que mais de 5.000 locais no genoma das células musculares da perna exercitada tinham novos padrões de metilação. Alguns mostravam um maior número de grupos metila e outros um menor. Mas as mudanças foram significativas e não aconteceram na perna que não foi exercitada.
O mais interessante é que muitas das mudanças na metilação ocorreram em pedaços de genoma chamados “acentuassomos” que podem amplificar as expressões de proteínas pelos genes. E a expressão dos genes aumentou notavelmente ou mudou em milhares de genes de células musculares que os pesquisadores estudaram.
Sabe-se que a maioria dos genes em questão tem um papel no metabolismo da energia, na resposta da insulina e na inflamação dos músculos. Em outras palavras, eles influenciam a maneira como nossos músculos – e corpos – se tornam saudáveis e ficam em forma. A conclusão é que agora os cientistas entendem melhor um dos passos no processo complicado e multifacetado que torna os exercícios físicos tão bom para nós.
Ainda há dúvidas. Muitos mistérios continuam a existir, diz Malene Lindholm, estudante de graduação do Karolinska Institute que liderou o estudo. Ainda não se sabe, por exemplo, se as mudanças genéticas que ela e seus colegas observaram continuarão se a pessoa parar de se exercitar e o quanto diferentes quantidades de tipos de exercícios diversos podem afetar os padrões de metilação e a expressão dos genes. Ela e seus colegas esperam poder examinar essas questões em pesquisas futuras.
Mas a mensagem desse estudo é clara. “Por meio de treino de resistência – uma mudança de estilo de vida facilmente disponível para a maioria das pessoas e que não custa muito – podemos conseguir transformações que afetam como usamos nossos genes e, por meio delas, ficarmos mais saudáveis e garantirmos músculos mais funcionais, o que realmente melhora nossa qualidade de vida”, afirma Malene Lindholm.
Epigenética
A epigenética é o estudo do modo como as experiências e o ambiente afetam o funcionamento dos genes sem transformar o DNA.
Matéria publicada no site O Tempo