Doping genético é a grande ameaça ao fair play

A Agência Internacional Antidoping está atenta ao uso da genética para melhorar o desempenho de atletas. O desafio é criar técnicas para identificar esse método em esportistas durante as competições.
Os Jogos Olímpicos do Rio de Janeiro em 2016 estão se aproximando, e, para garantir que os atletas compitam em condições iguais, autoridades investigam as novas formas de doping. O Futurando desta semana traz uma matéria que mostra como especialistas na Alemanha pesquisam novas substâncias com potencial para melhorar a performance de atletas, numa tentativa de se antecipar ao crime no mundo esportivo. Uma possível tendência é o doping genético, que despertou interesse de competidores após os avanços da terapia genética. O principal desafio agora é desenvolver técnicas para detectar esse novo método de burlar as regras esportivas.
De forma geral, o doping é o uso de substâncias ou métodos ilícitos que possam ajudar a melhorar o desempenho de um atleta. A provável origem do termo é a palavra holandesa dop, nome de uma bebida alcoólica feita com casca de uvas e utilizada por guerreiros zulus, a fim de melhorar suas habilidades de combate. O termo se tornou usual no século 20 fazendo menção ao uso de drogas em cavalos de corrida. No entanto, a prática de doping é tão antiga quanto as competições. Na própria Grécia Antiga, país berço dos Jogos Olímpicos, atletas já faziam uso de dietas especiais e consumiam poções estimulantes para aumentar o rendimento. Há registros de que já no século 19, ciclistas e outros atletas de esportes de resistência usavam estricnina, cafeína e álcool.
As primeiras proibições de doping começaram a valer a partir da década de 1920, mas os exames antidoping foram instituídos em campeonatos mundiais em 1966, pela União Internacional de Ciclismo e pela FIFA. Com a maior vigilância, atletas e especialistas passaram a desenvolver formas mais modernas de aumentar a performance de forma ilícita. Alguns passaram ao uso de esteroides anabolizantes e estimulantes para a dopagem sanguínea, na qual o sangue é retirado, guardado em ambiente refrigerado e depois reinjetado no corpo para carregar mais oxigênio aos músculos.

Terapia genética x doping genético

Agora o desafio da Agência Internacional Antidoping (WADA, na sigla em inglês) é coibir o doping genético. Trata-se do uso não terapêutico de genes, elementos genéticos ou células que têm a capacidade de aumentar o desempenho dos atletas. Na realidade há uma grande preocupação em relação à possibilidade de se usar esse método, já que nenhum caso foi comprovado até hoje.
A preocupação se justifica devido ao progresso da medicina na área da terapia genética. Essa é uma modalidade da medicina que consiste na transferência de material genético às células humanas para prevenir ou tratar doenças. No entanto, essa técnica também tem um grande potencial para melhorar o desempenho de atletas. De acordo com o Centro Nacional de Informações de Biotecnologia dos Estados Unidos, genes desenvolvidos para o tratamento de anemia (gene para eritropoietina), distrofia muscular (gene para insulina com fator-1 de crescimento) e doenças vasculares periféricas (gene para o fator de crescimento vascular endotelial) são exemplos de potenciais métodos de doping.
O avanço rápido nas pesquisas com terapia genética levou a WADA a agir para se antecipar ao mau uso desse método. Em 2002, o órgão reuniu representantes de vários esportes e cientistas para discutir o assunto. Especialistas relatam que treinadores de diversas modalidades esportivas entram em contato para saber como poderiam usar essa terapia para melhor a performance de seus competidores. Isso serviu de alerta para a Agência Internacional, que em 2003 incluiu o doping genético na lista de substâncias e métodos proibidos para atletas. Em 2004, a WADA criou a Equipe Especialista em Doping Genético, responsável por desenvolver estratégias de prevenção e detecção de manipulação não terapêutica de genes e proteínas no esporte.
Além da preocupação em manter a ética e o espírito esportivo nas competições, os órgãos internacionais estão preocupados com a saúde dos atletas. As substâncias e métodos proibidos no esporte podem causar danos ao organismo. Especialistas consideram o doping genético mais perigoso do que as outras formas, por se tratar de uma área de estudo ainda em desenvolvimento. Um dos problemas é justamente ainda não ser possível determinar, com exatidão, as consequências dessa modificação genética no organismo.
Por enquanto, as pesquisas com genes continuam em duas direções. Enquanto alguns especialistas seguem desenvolvendo os métodos para a terapia genética, outros tentam descobrir mecanismos capazes de identificar esse tipo de doping em atletas.
 
Por Portal Terra

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